Os jovens do São Gonçalo - Onofre Ribeiro

Nesta semana o tradicionalíssimo colégio salesiano “Dom Bosco”, de Cuiabá, expulsou 34 alunos envolvidos em brigas organizadas para exibição no orkut e no “you tube”. É uma situação complicada porque foge aos padrões tradicionais da violência comumente exibida nas emissoras de televisão e nos jornais e revistas. São jovens de classe média, de boa situação financeira, com família e que não precisam brigar na rua para provar alguma coisa que nem eles mesmos sabem.
São jovens fora do controle. São bons meninos e boas meninas, mas não têm origem familiar com disciplina. Na sua maioria vêm de famílias cujos pais e eles nunca foram muito íntimos. Ocupados desde sempre com o trabalho, os pais sempre deixaram seus filhos na escola e depois sob a responsabilidade muito diluída deles mesmos, dos seus quartos, dos seus computadores, de seus celulares, dos seus aparelhos de televisão, em vidas mais ou menos separadas, unidos pelo espaço físico da casa ou do apartamento.
Esta é a nova família. Não há como mudar nisso.
Cada vez mais os jovens estão dando o seu grito de independência, guiados pelo comportamento dos grupos de amigos aos quais pertencem. Não há mais lideranças sobre eles. Na escola, os professores vêm do mesmo tipo de família e não sabem lidar com a situação. Os pais vêm de uma família do modelo anterior, igualmente conflitada nas relações entre os pais e eles.
A nova família é muito mais complexa do que aquela antiga onde os pais detinham uma forte autoridade e acumulavam com propriedade a responsabilidade de educarem os seus filhos. Hoje falta-lhes uma educação de valores, de propósitos e até de justificativa de vida. As mães modernas não cozinham mais em casa, eliminando um forte vínculo afetivo em torno da mística da alimentação. Os fornos microondas são a nova mãe na cozinha. A comida não tem mais sabor e nem aroma. É só massa para matar a fome. Pode parecer sentimentalismo imaginar uma mesa onde se reúna uma família para comer macarrão feito pela mãe. Isso se come no restaurante, um dos tantos símbolos do consumo que atraem os jovens. Mas não agrupa os corações e sentimentos de família.
O namoro começa cedo, a competição, a moda, a personalidade pública, sem uma educação de base. Daí, não nem um pouco estranho que os jovens do Colégio São Gonçalo transformem a sua vida em ringue para viverem alguma emoção lúdica mais verdadeira. No mais, eles podem comprar todas as emoções. Seja uma camisinha que protege no sexo, seja um sanduíche tanto quanto um moderno aparelho eletrônico.
São vidas muito vazias as dos meninos e meninas da nova família brasileira.
Quando vi a manchete dos jornais sobre a expulsão dos 34 estudantes e imaginei quantos mais além deles brigam diariamente sem causa. Vi a surpresa dos seus pais e me pergunto: tem solução essa falta de rumo? Tem, mas quem deverá conduzi-la serão os pais. Mas aí fica uma questão final, séria e dura: eles querem, são capazes ou compreendem tudo isso e estão dispostos a serem os pais dos seus filhos?

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
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