Ontem, as três lojas que ainda funcionavam, em Cuiabá, não abriram mais. Funcionários ficaram sem informações
As três lojas remanescentes dos supermercados Modelo amanheceram fechadas em Cuiabá. Como informou o Diário na edição de ontem, as filias estavam na iminência do fechamento, algo que ocorreria ainda nesta semana. Entre os funcionários, muitos relataram surpresas com o fechamento de um dia para outro. Já fornecedores, com mercadorias na área de venda e com valores a receber da empresa, não puderam acessar o interior das lojas. A entrada estava exclusiva aos colaboradores. Clientes também foram surpreendidos.
Um funcionário abordado pelo Diário, na tarde de ontem, disse que a “falência” era sabida por todos, mas que ninguém tinha ideia de que o fechamento seria hoje. Sem dar muitos detalhes da situação, mas estampando muita preocupação em relação ao devido pagamento do que tem a receber, ele disse que há três meses de salários atrasados e que o recolhimento ao FGTS não era feito desde 2012. “O que corre aqui é que vão pagar FGTS e o PIS”, lamenta.
A dona-de-casa, Cecília Motta, vizinha do Modelo Coxipó, moradora do Shagri-lá, se disse surpresa com as portas fechadas e um breve aviso de que a loja não iria abrir. “Uma pena que a direção da empresa não tenha tido a consideração de informar seus clientes de que ia fechar em determinada data. Mesmo desabastecido, a gente sempre tinha como comprar um pão, um leite, coisas do dia-a-dia perto de casa”. Ela pontua ainda, que bairros como o dela, que tinha o Modelo Coxipó como o supermercado mais próximo, ficarão sem essa comodidade. “Eu que me desloco aqui a pé não tenho como atravessar a Fernando Correa, tanto para o sentido bairro como o Centro, atrás de mercado”.
Um fornecedor de pães, chegou cedo na loja Coxipó, como de costume para ver as mercadorias que estavam na área de venda, arrumar o que estivesse em lugar indevido e puxar do depósito o que precisasse ser reposto, mas não pode entrar no interior da loja. Ele contabiliza várias dezenas de produtos da marca, como bolos e biscoitos, que estão lá dentro e que têm prazo de validade. “São perecíveis. Não está certo deixar o produto estragar e tão pouco tirar o nosso direito de movimentar uma mercadoria que não está paga e que pelo visto, não vamos receber. Só queremos uma forma de minimizar as perdas”. O promotor da empresa, que pediu sigilo sobre as marcas que representa e ao seu nome, disse que viu a loja abrir e fechar. “Em 1992 participei a inauguração e hoje (ontem) vi a loja fechar”. Ele passou boa parte da tarde de ontem tentando, junto a sua chefia, uma forma de retirar as mercadorias, que estão também nas unidades do CPA II e da Avenida Miguel Sutil. Novamente, o Diário tentou contato com a direção do Grupo, via o departamento de Marketing, mas não obteve retorno.
O CASO – A crise financeira colocou em xeque 30 anos de história do grupo que foi o maior supermercadista do Estado. Em cerca de 18 meses, quase duas dúzias de lojas foram fechando uma a uma, até suspenderem em definitivo as atividades das três ultimas que ainda funcionavam: Coxipó, Miguel Sutil e CPA II. Desde o ano passado, a direção explica que a crise de liquidez que se instaurou no mercado financeiro a partir de 2008 - após o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos - fez com que os bancos parceiros da empresa reduzissem a oferta de crédito, o que provocou alto endividamento e levou à crise financeira e à necessidade de um Plano de Recuperação Judicial para renegociar mais de R$ 180 milhões. Em novembro ao ano passado, a Justiça suspendeu o plano de recuperação judicial do Grupo.
Na última terça-feira, o advogado responsável pelo processo de recuperação, Euclides Cunha, disse ao Diário que a suspensão das atividades passou a ser algo iminente nos últimos meses diante de um quadro que só se agravava a cada dia: altos custos fixos para manutenção das atividades e um contexto de Plano cancelado pela Justiça e da forte pressão do Banco Safra, o principal credor bancário do Modelo. “Esperamos por uma nova Assembleia Geral de Credores para tentarmos uma liquidação organizada junto aos credores e se não for possível, ficará a critério deles a forma de se fazer o pagamento”. O Grupo aguarda por uma resposta da Justiça sobre a marcação dessa Assembleia, que segundo Cunha, foi pedida para os dias 13 e 21 de agosto.
MARIANNA PERES
Da Editoria Diário de Cuiabá