MEIO AMBIENTE - Metade da produção de madeira é ilegal

Brechas no sistema de monitoramento e controle estariam permitindo a produção de créditos fictícios e a mistura da produção legal com a ilegal

Apesar dos mecanismos de controle e promessas de fiscalização, metade da madeira oriunda de florestas nativas continua a ser extraída de forma ilegal em Mato Grosso. 

A conclusão consta de um relatório inédito produzido pela ong ICV (Instituto Centro de Vida) e que será lançado hoje em Cuiabá no 3º Workshop de Monitoramento e Controle Florestal. 

Segundo a entidade, a exploração ilegal se perpetua nas “brechas” do sistema de monitoramento e controle. “Essas falhas permitem a produção de créditos fictícios e a mistura da produção legal e ilegal”, diz o relatório, em um trecho. 

Para obter o diagnóstico do setor de base florestal, a entidade se valeu de imagens de satélite (Landsat 8) referentes ao período entre os meses de agosto de 2012 a julho de 2013. 

As informações obtidas foram comparadas com os dados contidos em Autorizações de Exploração Florestal oriundas de Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) e Planos de Exploração Florestal (PEF) do período analisado. 

“Conferimos individualmente todas as autorizações de exploração, relacionando suas informações com as explorações mapeadas de forma a determinar sua legalidade”, explica o ICV, no estudo. 

O cruzamento das informações revelou que, de um total de 303.585 hectares de exploração florestal no Estado, 46% eram irregulares. “A exploração ilegal aumentou 31% em relação ao mesmo período de 2011/2012”, diz. 

Com uma produção anual média de 3 milhões de metros cúbicos de madeira em tora, o setor de base florestal do Estado gera cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos. 

No estudo, o ICV reconhece a “importância social e econômica” do setor, mas afirma que tal condição é “é manchada por uma ilegalidade silenciosa”. “Encoberta por documentos falsos, ela contamina toda a madeira explorada no estado”. 

Em relação a 2012, a análise aponta que a exploração (legal e ilegal) dobrou. Considerando apenas as áreas protegidas (parques e áreas indígenas), o estudo identificou 38.541 hectares explorados ilegalmente. 

“Verificamos um expressivo aumento da exploração florestal dentro das Terras Indígenas, que totalizaram 36.899 hectares. Isso representa um aumento de 1.194% em relação ao período anterior (2.850 hectares)”, diz o relatório. 

Entre as mais afetadas, destacam-se as terras indígenas Aripuanã, Zoró e Arara do Rio Branco, na região noroeste: juntas, elas somam 72% do total de exploração ilegal mapeado em terras indígenas. 

Por telefone ao DIÁRIO, o empresário Geraldo Bento, presidente do Cipem (Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira) disse desconhecer a metodologia do estudo. “Temos certeza de que a ilegalidade caiu 90%”. 

RODRIGO VARGAS
Da Reportagem Diário de Cuiabá