Reportagem especial mostra que, a despeito dos avanços tecnológicos, as obras públicas feitas hoje perdem em beleza e qualidade
Não é necessário ser um perito da construção civil para concluir que já não se fazem obras públicas como antigamente.
É verdade que os avanços tecnológicos (em máquinas, equipamentos e capacitação pessoal) poderiam reduzir os custos, o número de operários e o tempo da construção.
Mas, ao contrário do que era de se esperar, esses meios possibilitados pela modernização não estão justificando os fins – ao menos no Brasil.
O que se percebe é uma grande contradição: queda na qualidade, elevação dos custos e demora na conclusão, quando não param pela metade, como no caso das obras da Copa de 2014 - VLT, viadutos, centros de treinamentos... Sem esquecer, claro, do Aeroporto Marechal Rondon.
De uns tempos para cá, talvez 15 anos ou menos, as obras, reformas e serviços (manutenção) públicos vêm sendo questionados de uma maneira jamais vista ou de que se tem registro na história.
Comparar antigas edificações, de uma época em que as grandes construções eram literalmente erguidas por braços humanos, com as modernas, da era da tecnologia, reforça esta contextualização.
Um exemplo de obra do tipo “para a vida toda” é o Terminal Rodoviário de Cuiabá. Inaugurada há quase 36 anos, em dezembro de 1979, nunca passou por reforma para corrigir qualquer falha estrutural ou arquitetônica.
Ao contrário, se mantém como foi originalmente projetada, recebendo somente pintura anualmente e pequenos serviços de manutenção elétrica e hidráulica, como troca de fiação, tomadas, pias, vasos, entre outros.
Construído para substituir a fétida e minúscula estação rodoviária que havia na Rua Comendador Henrique, centro de Cuiabá, o novo terminal surgiu grandioso e assim permanece.
Quase quatro décadas depois, tem espaço de sobra para continuar enviando e recebendo passageiros de todos os cantos do país.
Em pouco mais de 3 mil metros quadrados, com três pavimentos, o terminal é um prédio arejado, com circulação e renovação contínua do ar. Tem seis plataformas de embarque, seis de desembarque, e quase 200 divisões em espaços comerciais, incluindo 36 guichês para venda de passagens.
Em uma cidade onde o serviço de abastecimento de água é um tormento, lá é uma tranquilidade. O projeto do prédio incluiu um poço artesiano e dois reservatórios, cada um com capacidade para 300 mil litros.
O supervisor da empresa Servexte, Reginaldo Egídio Rosa, disse que no caso da água, a única coisa feita desde a inauguração foi o aumento da profundidade do poço. Desde 1994, a exploração dos serviços no terminal é terceirizada, pela mesma empresa.
Com transporte aéreo em plena ascensão e o rodoviário em processo de declínio e descentralização, a capacidade do terminal cuiabano supera a demanda atual. Tem até espaços ociosos.
No piso térreo, por exemplo, há cerca de 70 mini-lojas fechadas. Reginaldo Rosa diz que a rodoviária perdeu o status de terminal e passou a ser estação.
Ele explica que dezenas de cidades do interior que comercializavam passagens até a capital agora têm seus próprios terminais e emitem bilhetes até o destino final dos passageiros.
Nesses casos, os ônibus só passam na estação da capital para pegar os passageiros que compraram bilhete aqui. Como exemplo, ele citou a linha: Alta Floresta-MT a Porto Alegre-RS.
Fonte: ALECY ALVES
Da Reportagem Diário de Cuiabá