AGOSTO DOURADO - Aleitamento materno em prematuros é essencial e pode reduzir mortalidade

Médica pediatra neonatologista comenta sobre benefícios da amamentação em prematuros. No Brasil, a taxa de prematuridade é de 11,5%.

No primeiro semestre de 2021, do total de partos realizados no Hospital Santa Rosa, em Cuiabá, 7,3% foram de prematuros. De acordo com a médica pediatra neonatologista e coordenadora da linha materno infantil da unidade hospitalar, Paula Gattass Bumlai, a média nacional gira em torno de 11,5%.

A prematuridade é a principal causa de mortalidade entre pacientes neonatais, que são recém-nascidos com zero até 28 dias. Neste sentido, Paula Bumlai, que também é presidente da Sociedade Mato-grossense de Pediatria (SOMAPE), reforça a importância da amamentação e do leite materno para a saúde dos prematuros.

O assunto da amamentação vem à tona agora porque estamos no mês intitulado 'Agosto Dourado', que é destinado às ações e campanhas em prol do aleitamento materno. Em Mato Grosso, o tema deste ano é "Proteger a amamentação, uma responsabilidade de todos".

"A medicina considera que um bebê que nasce antes de completar 37 semanas de gestação é prematuro. E esses bebês, assim como os demais, também passam pelo processo de amamentação e alimentação. Mas na prática é certamente mais difícil, por isso temos uma equipe multiprofissional que atua de maneira direta no sentido de orientar e auxiliar as mães no processo do aleitamento materno como um todo", afirma a médica.

Paula destaca que a amamentação de bebês prematuros é possível e essencial para o desenvolvimento e imunidade deles. "O leite materno é considerado um alimento vivo, rico em células de defesa, em nutrientes, e em lactobacilos. Existem ainda muitos medos e dúvidas em torno do aleitamento materno. Muitos pais e cuidadores acham que o leite da mãe de prematuro é 'fraco', ou que o bebê precisa somente ser alimentado por fórmula láctea, mas isso é um mito", ressalta a neonatologista.

Uma das curiosidades que a pediatra esclarece é que o leite materno das mães de prematuros é realmente diferente do leite produzido pelas mães de bebês que nascem a termo (dentro do período considerado ideal). "É como se o corpo da mulher, ao ter um parto prematuro, enviasse uma mensagem, preparando um leite muito mais rico e de fácil digestão para esse organismo imaturo", explica Paula.

Em relação à separação física entre mãe e bebê, muito comum no caso dos prematuros que precisam ir para a UTI Neonatal e passam longos períodos afastados da mãe, a pediatria destaca a atuação da equipe do Santa Rosa, composta por enfermeiras, nutricionistas, fonoaudiólogas, lactaristas, psicólogas e médicos, auxiliando as mães e ensinando técnicas de ordenha, a fim de estimular a produção de leite.

"Temos que lidar com vários aspectos que passam por questões físicas, biológicas, emocionais. De um lado temos uma mãe, que muitas vezes está vivendo uma frustração, uma quebra de expectativas com o nascimento prematuro do seu bebê. De outro, o recém-nascido que ainda não está com seu organismo totalmente pronto. Nosso desafio é ajudar nesse vínculo, motivando a mulher a não desistir, pois a falta de estímulo, do contato físico, pode influenciar na produção de leite", explica a neonatologista Paula Bumlai.

Mãe de Miguel, que nasceu prematuro com 29 semanas e 1 quilo e 330 gramas, no dia 12 de julho de 2019, a psicóloga Danielle Martins Moreira dos Santos, de 30 anos, conta que amamentar seu primeiro filho foi uma prova de resiliência e muita superação. "Logo que ele nasceu eu comecei o processo de tirar o leite, primeiro de forma manual, e a equipe da UTI já alimentou Miguel com o meu colostro. Foram 39 dias com Miguel no hospital e, mesmo separados, segui fielmente os horários de extração do leite. Tive ajuda de uma enfermeira que me ajudou a fazer com a máquina. Eu colocava o despertador e tirava leite inclusive de madrugada. Foi muito difícil, mas eu precisava ser disciplinada, pois queria muito que meu filho se alimentasse com o meu leite. Só tenho a agradecer a equipe do Santa Rosa, que sempre me apoiou, me ajudando neste processo todo", conta Danielle.

A persistência da mãe foi recompensada com a evolução do Miguel, que durante todo o período de internação não usou fórmula nenhuma vez e foi alimentado 100% com o leite materno. E após a alta do filho, a psicóloga seguiu com o aleitamento do Miguel até ele fazer 1 ano e 4 meses. "Além do meu filho, pude ajudar outras crianças, pois tive tanto leite que doei para um banco de leite", relembra Danielle.

A experiência adquirida com Miguel auxiliou Danielle na amamentação da Lívia, sua segunda filha, que está com 42 dias de nascida. "A gravidez do Miguel foi inesperada, pois eu usava DIU (um dispositivo que é inserido no útero para atuar como contraceptivo) e por isso ele pode ter nascido prematuro. Já a Lívia foi planejada e eu queria muito viver uma experiência diferente. Uma amamentação mais tranquila. E hoje posso afirmar que conheço os dois lados da moeda e por mais que as experiências sejam diferentes, ambas são especiais e gratificantes", frisou Daniele.

DICAS ÚTEIS - Para ajudar as mães na importante etapa da amamentação, a médica neonatologista do Hospital Santa Rosa, Paula Bumlai, listou algumas dicas: ingerir bastante água, no mínimo 2 litros por dia; alimentação variada e saudável; evitar fumar e ingerir bebidas alcóolicas; variar as posições de amamentação; oferecer o seio em livre demanda (quando e quantas vezes o bebê quiser); não ofertar outro alimento ou água nos primeiros seis meses de vida e ter uma boa rede de apoio com familiares e amigos.

No caso dos bebês prematuros, a médica acrescenta ainda que as mães, tão logo seja possível, podem extrair tanto o colostro, de preferência nas primeiras 24 horas após o parto, quanto o leite normal. "A ordenha pode ser feita com as mãos ou com auxílio de uma bombinha. A extração do leite deve ser feita com uma frequência aproximada de 3/3 horas, várias vezes por dia. No começo, a quantidade de leite que sai pode parecer pequena, mas não desista. Mantenha a ordenha do leite, quanto mais você ordenhar, mais leite vai produzir. Não tenha vergonha de procurar ajuda se você não souber como fazer. A amamentação é um processo que transcende o hospital, às equipes de saúde. Por isso, devemos envolver, além da mãe, pai e todos da família para que haja sucesso", finaliza Paula Bumlai.

Fonte: Pamela Muramatsu
Dialog - Assessoria de Imprensa Hospital Santa Rosa