ARTIGO DE OPINIÃO - O risco da análise de risco

*Por Thiago Vinicius e Leonan Roberto*

Em 1986, o sociólogo alemão Ulrich Beck publicou a primeira edição da obra "A sociedade de risco" apontando que, modernamente, fatores como as ameaças econômicas e políticas sistêmicas decorrentes da cadeia mundial de alimentos e produtos, colapso dos mercados, metamorfoses sociais dos perigos da vida cotidiana, prevalência da carência de recursos em meio à abundância e impotência dos sistemas jurídicos e eleitorais conviveriam com uma realidade aparentemente normal diante dos nossos sentidos.

Tudo isso se materializa no contemporâneo, fazendo com que a definição de risco se torne uma tarefa difícil. Bem verdade que no campo teórico, diversos mecanismos foram desenvolvidos para detectar riscos. Pode-se citar dentre os mais conhecidos a fault tree (árvore de falhas), a árvore de eventos e o diagrama de influências.

A árvore de falhas consiste em um método dedutivo que visa identificar uma causa raiz, estabelecendo um evento específico para então, a partir dele, projetar o impacto em todo o sistema. Já a árvore de eventos se vale de uma abordagem indutiva capaz de supor uma sequência de acontecimentos que pode ocorrer antes de um dado evento indesejado. Por fim, o diagrama de influência é um instrumento gráfico capaz de mostrar a relação de dependência condicional entre as variáveis críticas de um evento.

Em suma, a definição de riscos se baseia em uma possível ocorrência de fator impactante, aferido em termos de consequências e probabilidades, que coloca em xeque a previsibilidade do resultado desejado por uma ação. Nesse sentido, a Administração Pública não está imune aos riscos, o que exige do gestor a habilidade para lidar com diferentes cenários e situações, mesmo que estes não tenham sido previstos.

Apesar da relevância dos instrumentos elaborados pelos teóricos e até sociólogos para auxiliar na tomada de decisão, na prática, o que os gestores experimentam é a desproporcional diferença entre probabilidade e resultado, uma vez que as coisas prováveis deixam de ocorrer e as improváveis ocorrem o tempo todo.

Sendo assim, entendemos que o conceito de risco que mais se aproxima da realidade é o definido pelo economista Elroy Dimson, para o qual “risco significa que podem acontecer mais coisas do que as que acontecerão” e caberá ao gestor público estar preparado para identificar e lidar com os acontecimentos na forma que eles se apresentarem utilizando todas as ferramentas a seu dispor, mas com o cuidado de não ministrar o “remédio certo a doença errada”.

*Thiago Vinicius Pinheiro da Silva é Secretário Adjunto de Administração Sistêmica da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Mato Grosso.

*Leonan Roberto de França Pinto é Procurador do Estado junto à Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística de Mato Grosso.

Fonte: VB Assessoria de Imprensa