Para Gilmar Rossatti, a magia da agricultura é saber que sempre há oportunidade para recomeçar e seguir em frente

Após anos na lida no Paraná, o produtor e sua família apostaram tudo em um recomeço no cerrado mato-grossense.

No final de 2002, Gilmar Rossatti, aos 32 anos, veio com o pai à Mato Grosso para conhecer a região do Vale do Guaporé. Após dois meses, decidiram que Comodoro seria um bom lugar para o recomeço da família. Seus pais vieram primeiro, enquanto ele finalizava a safra no Paraná. Foi em julho de 2003 que Gilmar veio com a esposa Bernadete e as três filhas, com toda a mudança e a esperança de um recomeço.

Natural de Realeza, o paranaense trocou o sul do país pelo cerrado mato-grossense no início dos anos 2000, trazendo consigo a perseverança necessária para construir um novo lar e produzir em condições completamente diferentes. Segundo ele, a escolha por Comodoro foi estratégica por estar próxima da cidade e da rodovia. “A gente ouvia falar muito em Mato Grosso e quando chegamos aqui, gostamos da localização. Como não havia muita estrutura financeira para conseguir manter as estradas e também, não tinha como construir secadores na época, optamos aqui pela região por estar mais próxima dessas infraestruturas”, explica.

Com três filhas pequenas, Andressa, Adryaine e Arissayane, e poucos recursos, a família se mudou definitivamente em julho de 2003. A filha mais nova, Arissayane, aprendeu a andar já em solo mato-grossense. Além dos pais de Gilmar, também vieram duas irmãs. E seu filho caçula, André Luiz, nasceu anos depois, em Vilhena, Rondônia, que faz divisa com Comodoro.

No início da nova fase de sua trajetória, Gilmar lembra que passava muito tempo na lavoura para proporcionar o melhor para os filhos. Acordava antes do sol nascer e só voltava na virada da noite. Ao longo dos anos, foram muitos os desafios, entre eles, o clima, perdas de lavoura, falta de estrutura e negociações difíceis.

“Uma dificuldade muito grande do início foi da falta de estrutura, então a gente foi levando daquela maneira, altos e baixos que superamos com muita luta. Trabalho de acordar cinco horas da manhã, vir pra casa meia-noite, uma ou duas horas da madrugada e cinco horas da manhã estar de pé de novo. Já morei aqui e trabalhei sozinho, com os filhos estudando, mas essa é a vida do agricultor”, conta.

Para ele, a magia da agricultura está na oportunidade do recomeço e mesmo com todas as dificuldades, o orgulho da trajetória é visível. Ao falar sobre o legado e os avanços que está deixando para os filhos, Gilmar se emociona. "A gente sempre tem uma nova chance de plantar, crescer e seguir em frente. Desde criança mexemos com lavoura, desde a época que a gente limpou soja com enxada, passava carpideira com tração animal e hoje, com a tecnologia que temos em mãos, ver os filhos continuarem com o nosso legado, com a estrutura, é muito gratificante para a gente que luta nesse setor”, enfatiza.

O produtor também destaca o privilégio de poder compartilhar com seus filhos, a paixão que herdou do pai. “Eu vim desde criança na agricultura e será uma uma honra se meus filhos continuarem com essa profissão. Vai ser um legado tanto do meu pai, que foi agricultor, começou quando não existia nada e a gente aprendeu com ele, então seria muito gratificante para todos nós, a sequência da agricultura na família. E, tendo os filhos e genros agrônomos, trabalhando, a gente acredita que vai ter uma sequência e uma continuidade nessa profissão, que também é a minha vida, ser agricultor”, ressalta.

Segundo ele, ser agricultor é muito mais do que apenas plantar e colher, é uma profissão que exige um conhecimento multidisciplinar. “Agricultor hoje é meteorologista, agrônomo, negociador, comprador, envolve todas as profissões em uma só. Tem que estudar, se formar, buscar informação, não é só força, é conhecimento também”, aponta.

Com a tranquilidade de quem valoriza cada trecho percorrido, o associado da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT) é grato em ter os filhos envolvidos na fazenda, mesmo que cada um siga sua profissão. “No final de semana, o ponto de encontro é aqui, seja colhendo, plantando ou só convivendo”, acrescenta.

Hoje, aos 55 anos, Gilmar Rossatti, segue firme, com os pés no chão e os olhos no futuro. Para ele, ser agricultor se resume em uma palavra: vida. Vida pelo propósito, tempo e esforço dedicados ao ofício, e pelas inúmeras vidas que dependem do alimento produzido no campo.

Por Vitória Kehl Araujo - Assessoria de Comunicação
Foto: Mateus Dias/Aprosoja MT.