Volto ao tema pela sua relevância. No penúltimo sábado participei do workshop “Construção Social da Paz”, em Sinop, no Médio-Norte de Mato Grosso, uma cidade de 105 mil habitantes que hoje está mergulhada na paranóia da violência. Bem verdade que nos dois últimos anos a cidade sofreu forte impacto econômico nas suas atividades produtivas, em especial a madeira que sempre foi a sua base.
O sociólogo Marcelo Durante, analista de dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública, em Brasília, convidado para ser um dos palestrantes no workshop trouxe algumas verdades e alguns dados muito interessantes. O primeiro deles, começa no trato da violência como construção da paz. Insistir em comprar armas, viaturas e contratar mais policiais, disse ele, “é fazer mais do mesmo”. A essência da construção da paz no Brasil passa necessariamente pelo envolvimento da sociedade e pela gestão.
A busca pela construção da paz depende da adoção de uma transformação estrutural nas ações de segurança pública, com enfoque privilegiado na lógica da prevenção e da gestão.
Marcelo disse que “a reforma das polícias deve estar associada à constituição de um novo ângulo de abordagem da problemática da segurança pública, à formação de um novo profissional para a gestão pública de segurança e a negociação de uma nova aliança, de uma modalidade de pacto com a sociedade, particularmente com as comunidades locais. Todas essas mudanças devem ser acompanhadas por uma transformação gradual das polícias que inclua a revisão de alguns dos seus valores fundamentais, de sua identidade institucional, de sua cultura profissional e de seu padrão de comportamento. “Devemos verificar a transição de uma cultura de guerra para uma cultura de paz”, disse Marcelo Durante.
Do ponto de vista nacional ele apontou que entre 2001 e 2005 houve uma queda contínua dos homicídios, mas aumentaram muito: os crimes violentos contra o patrimônio, os delitos de trânsito e os delitos envolvendo drogas.
Os dados coletados mostram a incidência de agressores e de vítimas nas faixas etárias dos 12 a 17 anos, aumenta muito dos 18 aos 24 anos, diminui um pouco dos 25 aos 29 e menos ainda dos 30 aos 34 anos. No Brasil a violência não é uniforme regionalmente. Há variações da tipologia. Há municípios do interior, por exemplo, mais violentos do que as grandes capitais.
No geral, a violência cresceu 5% de 1980 a 2006, com homicídios em número duas vezes superior ao das mortes ocorridas na guerra do Iraque. Em roubo, o Brasil lidera no mundo. Na sensação de insegurança, o Brasil também lidera no mundo, segundo Marcelo Durante. Em 34 países pesquisados, com exceção da Bolívia, todos os demais pensam que a polícia faz bem o seu trabalho. O Brasil é o penúltimo.
Para lidar com a violência e a construção da paz, Marcelo Durante diz que “receitas copiadas não resolvem”. Mas ressalta ainda os maus salários da polícia e um exemplo do Rio de Janeiro, onde 40% dos policiais não crêem que possam subir na carreira. E a constatação é a de que para subir é preciso ter amigos influentes. Não é à toa que o Rio de Janeiro chegou ao nível de degradação a que chegou.
Aí aparecem dados cruéis: de cada 100 estupros, oito são registrados. De cada 100 homicídios, oito são julgados, sendo que em Recife, são apenas 3. Diante disso tudo, não há mais como falar senão em paz, já que a violência é dominante.
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
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