Diante dos encantos do mundo virtual poucos se preocupam com o destino dos equipamentos obsoletos que não precisam mais ir para o lixão
Ninguém, ou, para não exagerar, pouquíssimas pessoas param para pensar qual o destino dos milhões de computadores, celulares, televisores e outros produtos similares que todos os anos são descartados, substituídos por novas tecnologias. Para quem está entretido com os encantos do mundo virtual, o lixo eletroeletrônico parece não ser uma preocupação.
Em Cuiabá, esses resíduos seguem o mesmo caminho dos resíduos comuns e acabam no lixão municipal. Lá, assim como na população em geral, exceções à parte, os eletroeletrônicos passam despercebidos aos olhos dos catadores, para os quais a garantia de renda se restringe às garrafas pets, latinhas, papel e similares.
O empresário Carlos Israilev, 58, engenheiro mecânico por formação, não vai ao lixão coletar computadores, celulares ou outros equipamentos velhos, mas é a exceção. Em Mato Grosso, ele é o único a reciclar esses objetos em escala comercial.
Também é o primeiro a criar tecnologia própria para maximizar o desmanche e a transformação de máquinas obsoletas em metais de grande aceitação e bom preço no mercado.
O ERPCI-150(Equipamento para Reciclagem de Placas de Circuito Impresso), criado em parceria com o Serviço Nacional da Industria(Senai-MT) e a Universidade Federal de Mato Grosso(UFMT), como o próprio nome define, recicla peças de computadores, tevês e outros. A máquina tem capacidade para triturar 150 quilos de placas por hora, chegando a 25 toneladas/mês.
Enquanto fragmenta os componentes eletrônicos, por meios magnético e gravimétrico a máquina vai separando os metais, até seis tipos, entre os quais ferro, cobre e alumínio. O ERPCI-150 custou R$ 640 mil, demorou três anos para ser construído e entrou em operação há um ano e meio.
Não contente com essa inovação, Carlos Israilev já está trabalhando na otimização da máquina. Agregando suas ideias aos conhecimentos científicos da Universidade de São Paulo(Usp São Carlos), o empresário diz que em breve terá uma recicladora com 11 modelos de trituração, mais veloz e com capacidade de fazer a leitura dos componentes sem mudar a configuração do sistema.
As duas universidades estão representadas nos projetos com os professores-doutores Einstein Aguiar, do Núcleo de Gestão do Conhecimento da Faculdade de Administração da UFMT, e Dennis Brandão, Departamento de Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia de São Carlos-SP.
Na indústria dele, a Recyclart, essa não é a única máquina inventada ou aperfeiçoada pelo empresário. Ele conta que certa noite, após semanas “quebrando” a cabeça com a destroçadora de plástico que apresentava defeito e parava de funcionar praticamente todos os dias, sonhou instalando três novos fios (havia apenas um) de corte no equipamento.
“Acordei no meio da madrugada, fiz o desenho, voltei a dormir e quando o dia amanheceu desenvolvi o projeto”, relata, enquanto aponta os fios de corte e explicando como fez as mudanças que tornaram a destroçadora mais resistente e eficiente.
ALECY ALVES
Da Reportagem