Silval Barbosa anuncia aposentadoria

A três meses de deixar o comando do Estado, o governador Silval Barbosa (PMDB) deu uma entrevista à rádio da Secom (Secretaria Estadual de Comunicação) em tom de despedida e não fugiu de nenhum assunto "espinhoso" de sua gestão. Aproveitou para fazer um balanço de sua gestão, avaliou a disputa pela sua sucessão, reclamou da burocracia, criticou empreiteiras, anunciou a contratação de auditoria para responsabilizar os culpados pelas falhas nas obras da Copa do Mundo e confirmou a aposentadoria na política. Ele comentou ainda sobre a investigação da operação Ararath. 

A Saúde é um dos principais temas das eleições deste ano, justamente porque seria o setor mais deficitário do Estado. Esta semana, Silval anunciou um convênio com a prefeitura de Cuiabá para ajudar na construção do novo pronto-socorro da capital. Numa crítica à gestão do antecessor, Blairo Maggi (PR), o peemedebista destacou que "enquanto outros governos fecharam leitos eu abri ou ajudei a consolidar 396 leitos do SUS no estado de MT". 

Silval assumiu a gestão com graves problemas na Saúde, num período em que vários hospitais foram fechados e nenhuma nova unidade de saúde regional construída em oito anos do governo Maggi. "Assumi três hospitais - o Metropolitano, de Sinop e de Alta Floresta, além de outros na capital e mais o hospital do Lions que faz cirurgias de cataratas. Avançamos na área da Saúde. Se cada um avançasse um pouco assim, certamente nós estaríamos com a demanda quase suprimida. Infelizmente, não foi assim!", afirmou. 

Apesar do desgaste, o governador espera ainda ser reconhecido pelas suas ações e fez questão de afirmar que teve a Saúde como prioridade. Ele lembrou que inaugurou o Hospital Metropolitano, importante para reduzir a fila de espera por cirurgias de baixa complexidade, conveniou com a prefeitura o aumento de 60 leitos no pronto-socorro e outros 60 leitos no Hospital Santa Helena. Assim como ajudou na ampliação de leitos do Hospital do Câncer por meio de parcerias com empresários e a obra do hospital universitário com 250 leitos, que está em andamento. 

Silval criticou a burocracia que impede que os gestores agilizem obras. O hospital universitário vem sendo discutido por ele desde 2010 e era para ter ficado pronto este ano, mas a demora na realização do processo licitatório e elaboração de projetos atrapalharam os planos e agora ficará para o próximo gestor. Atualmente, a unidade está em construção, mas o chefe do Executivo destaca que sempre há problemas com a execução do projeto e ele reclama também de algumas construtoras que vencem os certames, mas não possuem capital de giro para garantir a execução dos empreendimentos. 

"Sempre temos um problema ou outro no projeto. Infelizmente, a qualidade dos projetos não é da vontade nossa. Você não escolhe a construtora, você passa por um processo público e está sujeito a pegar construtora boa, que tenha capacidade de giro, técnico, ou uma construtora ruim", reclamou. 

Silval destacou que além dos 250 leitos que terá o hospital universitário, o governo deixará aportados os recursos já na Lei Orçamentária Anual (LOA) para a construção do novo pronto-socorro com mais 300 leitos, totalizando assim 550 novos leitos na região metropolitana. 

“Hoje é fácil criticar, mas quando você senta aqui os recursos são finitos. Não dá para atender à demanda ou à vontade nossa. Ninguém quer ver um doente numa maca, mas os recursos são limitados”, desabafou. 

Obras da Copa 

Silval reclamou da falta de reconhecimento da sociedade com relação às obras executadas na capital. Ele destacou que o desgaste é pelo fato de ter feito muito, mas não conseguiu cumprir todos os prazos. Lembrou que as obras começaram a ser planejadas e projetadas ainda em 2010, quando assumiu o governo após Maggi deixar o comando do Palácio Paiaguás. 

Quanto à qualidade das obras, Silval rechaça as críticas de que a culpa é dele. Destaca ainda que a maioria das obras é boa, algumas que apresentaram problema, e as intervenções ajudaram melhorar o trânsito na capital. “Eu não sou engenheiro, me formei em Direito. Vou cobrar a responsabilidade de quem entregou a obra com falha. Se teve erro, vai arcar com os custos. Eu apenas contratei a obra. A maioria é obra boa e que melhorou nossa capital. A culpa é de quem fez o projeto ou de quem executa fora do projeto”, afirmou. 

O chefe do Executivo informou ainda que contratou uma auditoria para todas as obras e que exigirá das empreiteiras que faça os consertos necessários e arquem com os custos. Ele lembra que os contratos possuem garantia por cinco anos, portanto as empresas terão de arcar com os custos. 

Eleições 2014 

Para o governador, esta é uma eleição atípica, porque só um lado tem dinheiro, referindo-se a Pedro Taques (PDT), que arrecadou quase R$ 12 milhões para a campanha. “As discussões acaloradas existem mesmo, mas vou dizer que esta é uma campanha atípica porque só um lado tem dinheiro. O coitado do Lúdio, com uma dificuldade enorme, o Riva vinha com uma dificuldade e a Janete agora não deve ser diferente. O fator econômico numa campanha pesa muito”, afirmou. 

O gestor destacou ainda que as eleições em todo o país ocorrem em um clima diferente, em que não se tem o envolvimento das pessoas. “E não só aqui, é no Brasil todo. Você não vê aquele calor humano, o envolvimento das pessoas”, avaliou. 

Questionado sobre o fato de estar ausente da campanha de Lúdio Cabral, candidato que tem apoio do PMDB, e o fato de os adversários estarem alegando que o petista tenta escondê-lo de seu palanque Silval é enfático em afirmar que a decisão de não participar do processo eleitoral foi dele. Disse ainda não saber fazer “meia-campanha” e caso quisesse estar participando da eleição teria renunciado em abril para disputar o pleito ao Senado. Ele destaca ainda que nenhum governo investiu tanto na região metropolitana e no interior com programas de ponte e de estrada. Ele espera o reconhecimento com o tempo. 

“Eu quero que eles levem as propostas dele. Não vou usar a máquina e nem deixar usar a máquina. Se eu tenho desgaste, participando ou não, não vai diminuir o desgaste. Se eu participar, não vou entrar de meio- corpo, então vou deixar que o eleitor escolha o que entender ser melhor. Lúdio é o meu candidato, vou votar nele. Durante o dia estou cuidando do Estado. Quando eu entro numa campanha não vou pela metade. Foi uma opção minha. Disse que não iria participar, mas vou ajudar como posso. Falam que estou desgastado, mas isso porque fiz muito e não consegui fazer dentro do prazo certo. Dentro de Cuiabá, faço um desfio e a história vai dizer: nunca um governo fez tanto por Cuiabá, pela região metropolitana. No interior nunca se fez um programa como é o MT Integrado e programa de ponte, só que não foi no meu tempo, se fosse no tempo em que eu queria seria outro”. 

Maggi e Ararath 

Sobre as críticas de Lúdio à ausência de Maggi e a desconfiança de que o senador estaria apoiando Pedro Taques, no entanto, Silval preferiu não polemizar e disse que respeita a decisão do republicano, mas entende as críticas do petista. Para ele, o candidato do governo reclama da postura de Maggi com relação ao partido que está na aliança. 

O governador então lembrou que tanto ele quanto Blairo são investigados na operação Ararath, que corre em segredo de Justiça. Ele disse que tentam envolvê-los neste processo. Este seria um dos motivos para que ambos ficassem afastados do pleito eleitoral. “Blairo foi um grande governador, mas quando deixou o governo parece que o governo ia cair na cabeça dele. Maquinários, cartas de crédito, uma série de problemas e denúncias infundadas. O Lúdio não está atacando a pessoa do Blairo, ele está falando do Blairo do PR, que na concepção dele o estaria apoiando, mas é uma decisão pessoal do Blairo e não vou culpar. Assim como foi uma decisão minha não ir. Se eu quisesse estar na campanha teria renunciado ao mandato em abril e teria saído candidato. O Blairo não quer participar. Você vai obrigar? Nós temos problemas para responder que estão em segredo de Justiça. É uma opção minha: não quis e não vou participar”. 

Aposentadoria 

No dia 31 de dezembro Silval encerra o mandato de quatro anos e oito meses. Disse que após esse dia quer descansar. Deverá retornar suas atividades empresariais e voltar para Matupá. Mas apesar de sair da política, adianta que não ficará parado. 

“Eu quero descansar. São 22 anos consecutivos e tenho certeza absoluta de que deixei uma grande contribuição para o Estado e também foi um grande aprendizado. Vou estar agora em casa. Não de pijama, vou voltar para as minhas atividades e não posso parar. Sou jovem, tenho 53 anos, com energia total e com uma cabeça experiente”, finalizou em tom de brincadeira.

ALLINE MARQUES
Da Reportagem Diário de Cuiabá