EDUCAÇÃO - Projeto “Livro Esquecido” vira atração

Moradores do Distrito de Aguaçú ficam intrigados e maravilhados com projeto de incentivo à leitura idealizado pela prefeitura

Um projeto educativo simples, porém inovador, está provocando mudança de hábitos entre crianças e adolescentes no Distrito de Aguaçú, a pouco mais de 20 quilômetros do centro de Cuiabá. 

Além de conquistar novos leitores, o “Livro Esquecido”, uma ação da Secretaria Municipal de Educação (SME), é assunto na escola e rodas de bate-papo dos moradores. 

Encontrar livros “abandonados” em locais como praça, quadra esportiva, porteira de sítio, troncos caídos à margem de estradas, entre os galhos da árvore que faz sombra na parada do ônibus é, no mínimo, curioso. 

E quem ficou assim, desconfiado, sem entender o que acontecia, foi o pequeno Cristian Rodrigues Martins de Sousa, de 12 anos. 

Ele encontrou um livro “novinho”, como disse, largado na frente da quadra esportiva vizinha da escola Udeney Gonçalves de Amorim, onde cursa o 7º ano do ensino fundamental. 

Cristian conta que parou, mas havia pensado em passar direto, deixar o livro onde estava, por não saber de quem seria. Entretanto, a curiosidade típica das crianças o fez parar. 

“Peguei o livro, li o título (Laboratório de Lelê e Trix – A Experiência Investigativa) e quando abri, vi um bilhete na contracapa”, diz. 

O recadinho informando o nome e a proposta do projeto o surpreendeu: “Amigo leitor, desfrute de momentos de cultura e lazer e quando terminar esqueça este livro por aí, para que outra pessoa possa desfrutar de novos saberes”. 

Cristian disse que demorou um pouco para começar a leitura, porque estava com muitos afazeres da escola, mas agora está quase no fim. E gostando bastante da história. Ele explica que o tema está relacionado à preservação ambiental e economia de energia elétrica. 

O estudante se reconhecia como alguém sem muita intimidade com a leitura não obrigatória. Que lia por imposição da escola. Agora, pode se apresentar como alguém que começou a mudar. 

Esta semana, Cristian achou mais um livro esquecido, desta vez na praça do distrito. Ele levou para casa “O Grande Dia”, que utiliza o futebol, paixão brasileira, para falar de amizade, cidadania e solidariedade. 

Dona Neemesia da Silva, 59 anos, que mora na comunidade Machado, a cerca de 6 quilômetros da sede do distrito, também se surpreendeu com livros sobre a porteira de seu sítio. 

Produtora de rapadura de cana e biscoitos, a sitiante gostou principalmente do exemplar sobre culinária, com receitas de pizza e massas. 

Desde que se casou com Marçal de Assunção, ela vive no sítio São Sebastião, na mesma casa em que o marido nasceu. 

Neemesia, que estudou até a terceira série do antigo ensino primário, lamenta não ler com a fluência que gostaria, enquanto revela o desejo de voltar à escola. 

No caso dela, a equipe da SME não conseguiu passar despercebida ao “esquecer” os livros na porteira. 

A moradora percebeu a presença dos incentivadores da leitura e fez questão de recebê-los. “Que interessante!”, reagiu ao ouvir sobre a proposta do projeto. Ele ficou com três exemplares.

ALECY ALVES
Da Reportagem Diário de Cuiabá