Discussões sobre a pecuária sustentável encerram o Fórum das Cadeias Produtivas

Boas práticas que promovem a pecuária sustentável de Mato Grosso foram apresentadas no encerramento do Fórum das Cadeias Produtivas da 54° Expoagro, nesta quinta (07.07). Um painel composto por pecuaristas e entidades representativas do segmento abriu a tarde para discutir o uso de áreas de Planícies Pantaneiras do Araguaia, Guaporé e Pantanal.

A advogada especializada em direito agro-ambiental, Alessandra Panizi, explicou que, nos últimos dois anos, o Conselho Estadual do Meio Ambiente intensificou as discussões para flexibilizar as políticas voltadas a produção no estado. Mato Grosso tem 72% de áreas não úmidas e 22,4% de áreas úmidas.

“No cerrado, os produtores podem utilizar 35% das áreas e 65% deve ser destinado a conservação. O produtor é o que mais preza pelo meio ambiente no estado, pois ele depende diretamente da natureza para sua atividade”, apontou Panizi.

A advogada também apresentou, de forma resumida, o que a legislação atual permite em relação às áreas localizadas no Pantanal: limpeza de pastagem, a piscicultura de peixes de espécies naturais e o uso do fogo com autorização de queima, emitida pela Sema, para evitar que as chamas percam o controle.

O presidente do Sindicato Rural de Cuiabá, Celso Nogueira, pontuou que as recentes queimadas que destruíram reservas no Pantanal são exemplos de como a presença da pecuária pode ser benéfica pois onde o boi está há o cuidado permanente das áreas.

“Precisamos do incentivo dos Governos para dar mais musculatura a criação de bois, pois o Pantanal precisa do boi, mais do que o boi precisa do pantanal”, disse Nogueira.

Fazenda Pantaneira Sustentável

O projeto pioneiro Fazenda Pantaneira Sustentável (FPS) foi outro assunto abordado. A diretora técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Lucélia Avi, foi quem conduziu a apresentação no evento. O FPS começou a ser estruturado em 2017 pela Famato em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). Tem como parceiros os Sindicatos Rurais e o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).

O FPS é uma ferramenta desenvolvida para medir o grau de sustentabilidade da atividade pecuária na região do Pantanal de forma sistêmica e com indicadores diversos. A partir desse diagnóstico, é possível identificar desafios e fragilidades da fazenda e, assim, auxiliar os produtores rurais em tomadas de decisões mais assertivas por uma produção sustentável e eficiente. Entre os objetivos estão aumentar a eficiência e melhorar a vida do pantaneiro.

Quinze produtores aderiram ao programa e suas fazendas são mapeadas por técnicos que levantam as características da região e principais necessidades. As informações são transportadas para um banco de dados, que apontará no futuro gargalos no estado, auxiliando o governo e prefeituras no desenvolvimento de ações de melhoria.

Produção de Bezerro Sustentável

O economista e consultor da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Amado Oliveira, compartilhou a trajetória da entidade que é mantida por produtores para o fomento da pecuária em solo mato-grossense.

Segundo dados apresentados pelo especialista, todos os 141 municípios registram a produção de gado, projetando Mato Grosso como o estado com maior rebanho do Brasil. Embora seja uma posição de destaque, Amado destacou que a Acrimat tem um objetivo ousado.

“Nós queremos ser o estado campeão de produção de arroba de gado por hectare no lugar de cabeça”, expôs o representante da Associação.

Mas não é somente o incremento de produção que está no foco da Acrimat. Amado trouxe ainda a preocupação com a produção sustentável da pecuária mato-grossense. O consultor apresentou o programa de produção sustentável de bezerros, que apoia pecuaristas do bioma Pantanal, em Mato Grosso, na transição de propriedades com produção de baixa tecnologia para alta performance. O objetivo da iniciativa é aumentar a renda da porteira para dentro e garantir maior sustentabilidade na cadeia de fornecimento da região.

Carbono Neutro

A secretária de Estado de Meio Ambiente (Sema), Mauren Lazzaretti, falou sobre o Programa Carbono Neutro MT, que tem o objetivo de reduzir 80% das emissões até 2030 e neutralizar as emissões de carbono até 2035.

Desde 2004, as ações de fiscalização da Sema conseguiram reduzir em 87% o desmatamento. De acordo com Mauren, um dos fatores que contribuem com a conservação é a regularização das terras e a atuação do produtor rural.

“Quando você regulariza, automaticamente, as ações passam a ser monitoradas e os agropecuaristas entendem que pode usufruir de diversos benefícios tendo a legislação ao seu lado, como por exemplo, linhas de crédito para modernizar sua produção”, falou Lazzaretti.

O programa Carbono Neutro possui uma plataforma digital, para a adesão e concessão dos selos aos interessados, em diferentes níveis. Segundo a secretária, já foram entregues os primeiros selos este ano.

Nelore Pantaneiro e Carne Sustentável

O último dia do Fórum das Cadeias Produtivas contou ainda com a apresentação do grupo Celeiro e o projeto “Nelore Pantaneiro”, da fazenda Capão de Angico.

Pecuarista e proprietário da empresa Celeiro, Marco Túlio, destacou a linha Green do grupo, que foi o primeiro a receber a Etiqueta Verde da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB). O selo exige compromissos importantes em termos de produção sustentável, como o respeito a legislação ambiental e trabalhista, além de ser 100% rastreada – do nascimento ao ponto de venda. Outro requisito é a terminação a pasto dos animais certificados.

“A carne provém de novilhas precoces, nascidas, recriadas e terminadas a pasto na fazenda do grupo, e rastreadas desde o nascimento. A embalagem conta com QRCode com informações de origem, idade, características e até a história da fazenda”, informou o empresário Marco Túlio Duarte Soares.

Já o projeto ‘Nelore Pantaneiro’, desenvolvido pela fazenda Capão de Angico, em Poconé, busca desenvolver um gado mais ‘rústico’, adaptado para suportar as peculiaridades do bioma do Pantanal, que passa por períodos de cheia e estiagens severas.

Em dois anos e meio, a propriedade estima colher os primeiros resultados das 300 matizes cultivadas em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).

Fonte: Pâmela Dialog Assessoria e Comunicação
Crédito Fotos: Júlio Rocha/AgroNews