ARTIGO: Nosso Cartão Postal

*Autores: Lazaro Donizete da Silva e Aparecida de Castro Soares*

Assim, sabe, quando se chega ou se sai de uma cidade inevitavelmente passamos por um cartão postal. Pode ser grande ou pequeno. Invariavelmente, apenas o estado de conservação, higiene e capacidade receptiva, acompanharão as pessoas para seu destino. E, eu cá, pensando que negócio feio é esse? Parece tudo improviso. Poderia alguém dizer que é por pouco tempo, mas percebo marcas do tempo. Ah! Sei não, parece que está abandonado a sorte. E ponto final.

Nas lembranças, a imagem que se tem, pode-se comprovar é que tudo ali relegado a plano menor, tal a sua insignificância aos olhos de quem detém o Poder. E, não foi por falta de poder, representações no poder e acesso a formas de recursos. Existem sobre esse local tantos comentários, reais ou não! Quem pode, se mantem calado. Numa próxima estação quem por ali esteve, transmite essa insana imagem. É comum que nas conversas que se tem sobre a passagem as pessoas acrescentem, busquem colorir do seu imaginário e tornar mais atraente aos ouvidos a condição negligenciada. Um, depois outro, muitos vão levando essa infeliz mensagem, de sala de estar. E, já não basta dizer que a cidade é encantadora, nem enumerar seus atrativos. Pois, recepção não há!

O paradoxo se encontra quando se observa a propaganda oficial, de um, dois, de vários governos que se sucederam. A exaltação é a marca que causa a analgesia e torna o inaceitável, possível. O trem da história segue. Logo mais, o mesmo permanece ou outro vem para sucedê-lo e continuar a impor sobre todos, esse fadário. O tempo vai passando e o estado de ruinas permanece, inabalável.

Eu cá, me pergunto, como será a casa dessas pessoas que estão ou estiveram com o Poder? Sim, porque deve ser em condições similares que recepcionam os bem-vindos. Se o viajante possui a liberdade de levar nossa melhor imagem, eu tenho de construir sobre as pessoas que governam. Nisso há absoluta reciprocidade. Imaginem vocês, uma pessoa estimada que a muito não vê, se desloca e vem ao seu encontro e precisa ser recepcionada no espaço público, sem identificação e a beira do caminho, o que há de pensar sobre o alcaide e seus assessores?

Quando era jovem, assisti várias películas de cidades abandonadas, parecia que o vento chorava a despedida de mais uma pessoa que ia em busca de seus sonhos. Não me lembro, ainda que o tempo dificulte, de ter assistido um regresso que fosse metamorfoseando a paisagem triste para um colorir de alegria do retorno da esperança. Sempre há chances.

Meu tempo, nem sei quanto será, não importa. Desejaria, nas inúmeras improbabilidades dos sonhos, que um projeto factível, previsão de início, meios e fim, fosse apresentado. Não precisaria de muita tinta sobre o papel, bastava que a verdade fosse contida, me alegraria muito. Tenho certeza, também que aos mais jovens que sentem orgulho de sua cidade e, não necessariamente de seus governantes.

Daqui a pouco, novamente, nem sei quantas vezes isso já ocorreu, trará um mirabolante projeto. Será como se alguém descobrisse a possibilidade de construir ao invés de habitar em árvores. Tudo o que eu, tantos mais desejam é que alguém consiga ver NOSSO CARTÃO POSTAL ganhando formas, num construir em que as mãos daquele que está no Poder, apresentam-se calejadas por ombrear esse desafio, nem precisa de ser, de bater cimento. Sei que isso é incerto, as palavras bem construídas ganham lugar da construção e, o não edificar traz junto a si um elencado de razões que foram produto de grande esforço mental para que tivessem força de convencimento e capacidade de ser aceita como verdade.

Nossa Estação Rodoviária de Várzea Grande, sucedem-se estações e permanece vítima do tempo e da inação dos alcaides. Um terrível silêncio sepulcral sobre o local e o estado que se encontra. Nenhuma voz, nem gesto. Chegam e vão pessoas carregando a imagem da Cidade Industrial retratada por este espaço de recepção. Imagem que não se apaga com a verborragia. Como da Terra sinto o dever de dizer: tenham esperança, isto ainda vai mudar e, nós não somos iguais aqueles que estão nos Poderes, por certo, não por maldade, mas não conhecem ou dão significado social e econômico para este bem e serviço público.

No tocante ao aspecto econômico, uma estação rodoviária bem construída promove o desenvolvimento. Áreas ganham valor social e passam a ter maior interesse imobiliário, multiplicam-se os investimentos, desde moradias, estabelecimentos comerciais e de serviços. Uma rodoviária pode ser um indutor de desenvolvimento de um bairro ou região, portanto, não haverá de ser construída em área já adensadas, com trânsito dificultado, o que afetaria a qualidade de vida daqueles que moram no entorno e daqueles que vão acessar aquele espaço.

O aspecto social resultante de um projeto bem construído reduz os riscos do local ser considerado perigoso, uma vez que a tecnologia permite câmeras e outros recursos destinados a controlar e evitar que qualquer imprevisto seja rapidamente identificado. Isso traz conforto, segurança e cria imagem positiva da cidade. Em outras palavras, um Cartão Postal como esse, transforma social e economicamente um bairro ou região, além de possibilitar aos visitantes levarem uma melhor imagem da nossa cidade.

* Lázaro Donizete da Silva, Historiador e Graduado em Serviço Social (UFMT), Especialista em Gestão Pública Municipal (UAB/UFMT)

* Aparecida de Castro Soares, Assistente Social do INSS em Várzea Grande/MT, Mestra em Política Social pela UFMT.