Sobre Mestre China e Cuiabá

Sobre esse artigo, publicado no último domingo, recebi o e-mail abaixo, da jornalista Martha Baptista, contendo o artigo “Exister um lugar”, que reproduzo a seguir, tanto pela pertinência, quanto pelo carinho que tenho por ela:

“O jornalista Onofre Ribeiro escreveu um artigo para o último dia 20 recheado de lembranças do Mestre China e da Cuiabá de antigamente. Gosto especialmente dos artigos do Onofre que fogem a temas de política, talvez por estar cada vez mais descrente dessa outrora nobre arte.

Mas, apesar de ter apreciado o ar saudosista do amigo, senti-me compelida a fazer algumas ponderações sobre a Cuiabá atual, já que pouco ou nada conheci dessa capital do passado. Cuiabá é uma cidade que me surpreende sempre. Moro aqui há cinco anos, procedente do interior do estado, porém com as lembranças que trouxe da infância, adolescência e parte da maturidade vividas no Rio de Janeiro.

Talvez por sentir tantas saudades do Rio que adotei como cidade ainda pequena, vinda de Corumbá (MS), e pela memória afetiva da cidade natal onde vivi tão poucos anos, eu me meto a buscar na capital mato-grossense todo e qualquer tipo de afinidade com minhas origens. Seja o clima quente, a irreverência e a apregoada hospitalidade do povo cuiabano. Mas, que povo cuiabano? Hoje Cuiabá é uma mistura de sotaques, tons de pele, ritmos e culturas, e tenho dificuldades para encontrar na lista de amigos algum que seja cuiabano de ‘tchapa e cruz”, como dizem.

Mas, retomando o fio da meada, encontrei em Cuiabá alguns lugares onde me sinto quase em casa: o Parque Mãe Bonifácia, o Sesc Arsenal com sua infinidade de opções culturais – das apresentações de músicos como Ebinho Cardoso às oficinas de dança de Rodinei Barbosa -, o Tom Chopin com seu visual deslumbrante e a música sempre de qualidade e, finalmente, o Choros & Serestas.

O Chorinho, como é mais conhecido, é um bar no Jardim Tropical, meio escondidinho, mas que revela surpresas inacreditáveis: dos tipos que a gente costuma ver nas gafieiras da Lapa, reduto da boêmia no Rio, aos cantores que disputam o microfone – alguns mais profissionais, outros nem tanto – nas rodas de samba de quarta-feira e sábado. Tudo sob o comando sereno do cearense Antônio Marinho de Souza Fortaleza, o Marinho e seu inseparável violão de sete cordas. O Chorinho, principalmente aos sábados, é sempre uma festa: Cartola, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Nélson Cavaquinho e Gonzaguinha são alguns dos compositores revisitados; sambas-enredos inesquecíveis, marchinhas e outros ritmos sempre atuais animam o ambiente e, o que é mais legal, tem cada vez mais gente jovem no pedaço, tocando um instrumento, cantando ou apenas se divertindo.

Imagino que Cuiabá tenha outros redutos interessantes como esse, mas de qualquer maneira percebo uma falta de maior circulação de informações nesse aspecto. Por isso quis dar meu depoimento (como freqüentadora do Chorinho) e contribuir para tornar Cuiabá mais aprazível para todos de modo que possamos reunir cada vez mais lembranças agradáveis desta cidade e ter bons motivos para crônicas como a do nosso amigo Onofre”.



Onofre Ribeiro é colaborador deste jornal e articulista da revista RDM

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