Egípcios celebram 1º dia sem ditador, mas rota à democracia será difícil

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Milhares de egípcios acordaram em festa neste sábado, o primeiro dia sem o comando do ditador Hosni Mubarak, que renunciou na tarde desta sexta-feira após 30 anos no poder. A vitória da revolta popular em 18 dias de intensos protestos foi celebrada em todo mundo, mas os egípcios ainda enfrentam um futuro incerto na complexa transição à democracia.
Os manifestantes estavam divididos. Alguns recolheram as suas tendas improvisadas e foram para casa continuar as celebrações pela queda da ditadura. Mas outros prometeram ficar na praça Tahrir, epicentro dos protestos da oposição, até as Forças Armadas, que se comprometeram a coordenar as reformas para uma maior democracia, emitam uma declaração de compromisso com seus próximos passos.

Estas etapas podem incluir a dissolução do Parlamento e a criação de um governo de transição que ficaria até, ao menos, setembro --quando ocorrem as eleições presidenciais.
"Temos que ver como o Exército vai orquestrar uma transferência democrática do poder.

Temos que esperar e ver", disse Ali Mohammed, gerente de vendas e um dos manifestantes acampados na praça.

Sob um cartaz em que se lia "o povo conseguiu derrubar o regime", dois outros manifestantes discutiam se deviam ou não limpar a praça.
O lojista Gomaa Abdel-Maqsoud diz que está em Tahrir desde que os protestos começaram, em 25 de janeiro, e está pronto para ir. "Eu nunca vi tanta felicidade no rosto do povo. O que mais posso querer?", perguntou.
Nadal Saqr, um professor universitário, insistiu que os manifestantes devem ficar até que haja "garantias claras" do Exército de que suas reivindicações por uma democracia sejam cumpridas.

Com a renúncia de Hosni Mubarak, o Conselho Superior das Forças Armadas assume a administração dos assuntos do país. Em comunicado, o órgão prometeu garantir a celebração de eleições "livres e transparentes" --mas muitos duvidam que, em sete meses o novo governo consiga apagar 30 anos de eleições duvidosas ou mesmo que a oposição, mantida sob mão de ferro pelo ex-ditador, consiga se organizar.
Nesta sexta-feira, os principais nomes da oposição celebraram a queda de Mubarak, mas ninguém se arriscou a dizer um nome que possa unir os vários setores da sociedade egípcia em um governo de transição.

ROTINA
No primeiro sinal da volta à rotina, o Exército egípcio iniciou neste sábado a retirada das barricadas da praça Tahrir, no centro do Cairo, epicentro da revolta que provocou a queda de Mubarak.
Os militares retiraram as barricadas ao lado do Museu Nacional egípcio, na entrada norte da praça. Também retirava das ruas os carros queimados nos confrontos entre as forças de segurança e os manifestantes pró e contrários a Mubarak.
Alguns civis colaboravam na limpeza da praça, que abrigou centenas de manifestantes nestes 18 dias de revolta contra o regime autoritário de Mubarak e também contra o desemprego e a pobreza.

Os tanques do Exército posicionados nas ruas e avenidas que levam à praça Tahrir, instaurados para tentar conter os confrontos entre os manifestantes pró e anti-Mubarak, foram deslocados para liberar a passagem.
Com o caminho livre, muitos egípcios foram neste sábado pela primeira vez à praça Tahrir para ver o clima no local sem temer a violência vista em alguns dos dias de protestos.

Fora de Tahrir, as ruas do Cairo continuavam lotadas de manifestantes, em sua maioria os jovens que iniciaram a revolta popular com o uso da internet e conseguiram propagar as manifestações ao restante da sociedade egípcia.

"É uma festa! Renascemos", afirmou Osama Tufic Sadallah, um engenheiro agrícola de 40 anos. "Estávamos atrás dos outros países, mas agora temos valor aos olhos dos demais, do mundo árabe", completou.

Com 80 milhões de habitantes, o Egito é o maior país do mundo árabe e uma potência regional. Mas 20% de sua população vive abaixo da linha da pobreza, ao mesmo tempo que as liberdades política e religiosas foram reduzidas durante décadas de regime autocrático.

 Fonte: Folha